“Bem-aventurados os pacificadores, porque eles
serão chamados
filhos de Deus” - Jesus Cristo. “Senhor fazei de mim um instrumento
de
vossa paz” –Francisco de Assis.
Quando ouvi por completo as palavras do Papa Francisco,
no
Capitólio dos Estados Unidos, nesta quinta feira senti uma imensa e
inexplicável emoção.
Pensei: Um anjo desceu do céu e está falando pela boca
do Papa
Francisco a todas as nações da Terra.
Esta foi a primeira vez que um Pontífice pisou no
Congresso
americano proferindo um dos mais belos, sonoros e marcante
discurso
de toda história da humanidade. Com voz segura, mansa
e angelical tocou em
temas contundentes, políticos e atuais.
Foi por diversas vezes ovacionado de pé. Se odiado por
republicanos e conservadores não foi questionado uma única vez.
“A palavra
mansa desvia o furor...”
Não tenho como exprimir toda a beleza e profundidade do que
foi dito, ainda que, eu
destile lágrimas... Posso apenas selecionar
alguns temas que se estendem as
nações em todos os quadrantes
da terra.
Todos os problemas políticos e sociais foram citados em
sua
mensagem: Liberdade religiosa. Fome. Impostos. Imigração.
Pena de morte.
Venda e tráfico de armas. Pobreza. Moradia.
Distribuição de renda e terra. Refugiados
e etc.
Destaco aqui alguns textos para aqueles que não tiveram a
oportunidade de ouvir ou ler em sua íntegra:
“Gostaria de dirigir-me não só a
vós mas, através de vós, a todo
o povo dos Estados Unidos. Aqui, juntamente com
os seus
representantes, quereria aproveitar esta oportunidade para
dialogar com
tantos milhares de homens e mulheres que
se esforçam diariamente por cumprir
uma honesta jornada de
trabalho, para trazer para casa o pão de cada dia,
construir
uma vida melhor para as suas famílias. São homens e
mulheres que não
se preocupam apenas com pagar os impostos,
mas – na forma discreta que
os caracteriza – sustentam a vida
da sociedade. Geram solidariedade com as suas
atividades e criam
organizações que ajudam quem tem mais necessidade.
O nosso mundo torna-se cada vez mais um
lugar de conflitos
violentos, ódios e atrocidade brutais, cometidos até
mesmo em
nome de Deus e da religião. Sabemos que nenhuma religião
está imune
de formas de engano individual ou de extremismo
ideológico. Isto significa
que devemos prestar especial atenção
a qualquer forma de fundamentalismo, tanto
religioso como de
qualquer outro gênero. É necessário um delicado equilíbrio
para
se combater a violência perpetrada em nome duma religião, duma
ideologia
ou dum sistema econômico, enquanto, ao mesmo tempo,
se salvaguarda a liberdade
religiosa, a liberdade intelectual e
as liberdades individuais.
Nós, pessoas deste continente, não
temos medo dos estrangeiros,
porque outrora muitos de nós éramos estrangeiros.
Digo-vos isto como
filho de imigrantes, sabendo que também muitos de vós sois
descendentes de imigrantes.
O nosso mundo está a enfrentar uma crise
de refugiados de tais
proporções que não se via desde os tempos da II Guerra
Mundial.
Esta realidade coloca-nos diante de grandes desafios e decisões
difíceis. Também neste continente, milhares de pessoas sentem-se
impelidas a
viajar para o Norte à procura de melhores
oportunidades. Porventura não é o que
queríamos para os nossos
filhos? Não devemos deixar-nos assustar pelo seu
número, mas antes
olhá-los como pessoas, fixando os seus rostos e ouvindo as
suas
histórias, procurando responder o melhor que pudermos às suas
situações.
Uma resposta que seja sempre humana, justa e fraterna.
Devemos evitar uma
tentação hoje comum: descartar quem
quer que se demonstre problemático.
Lembremo-nos da regra de ouro:
«O que quiserdes que vos façam os homens,
fazei-o também a eles»
(Mt 7, 12).
...Se queremos segurança, demos
segurança; se queremos vida,
demos vida; se queremos oportunidades,
providenciemos
oportunidades. A medida que usarmos para os outros será a
medida
que o tempo usará para conosco. Esta convicção levou-me,
desde o início do meu
ministério, a sustentar a vários níveis a
abolição global da pena de morte.
Estou convencido de que esta
seja a melhor via, já que cada vida é sagrada,
cada pessoa humana
está dotada duma dignidade inalienável, e a sociedade só
pode
beneficiar da reabilitação daqueles que são condenados por crimes.
A luta contra a pobreza e a fome deve ser
travada com constância
nas suas múltiplas frentes, especialmente nas suas
causas. Sei que hoje,
como no passado, muitos americanos estão a trabalhar para
enfrentar este problema. Naturalmente uma grande parte deste esforço
situa-se
na criação e distribuição de riqueza.
Este bem comum inclui também a terra, tema
central da Encíclica
que escrevi, recentemente, para «entrar em diálogo com
todos acerca
da nossa casa comum» (ibid., 3). «Precisamos de um debate que
nos
una a todos, porque o desafio ambiental, que vivemos, e as
suas raízes
humanas dizem respeito e têm impacto sobre todos nós»
Estar ao serviço do diálogo e da paz significa
também estar
verdadeiramente determinado a reduzir e, a longo prazo, pôr termo
a tantos conflitos armados em todo o mundo.
Aqui devemos interrogar-nos: Por
que motivo se vendem armas letais
àqueles que têm em mente infligir
sofrimentos inexprimíveis a
indivíduos e sociedade? Infelizmente a resposta,
como todos sabemos,
é apenas esta: por dinheiro; dinheiro que está
impregnado de sangue,
e muitas vezes sangue inocente. Perante este silêncio
vergonhoso e
culpável, é nosso dever enfrentar o problema e deter o comércio
de armas.
Uma nação pode ser considerada grande, quando
defende a liberdade,
como fez Lincoln; quando promove uma cultura que permita
às pessoas «sonhar» com plenos direitos para todos os seus irmãos
e irmãs, como
procurou fazer Martin Luther King; quando luta pela
justiça e pela causa dos
oprimidos, como fez Dorothy Day com o seu
trabalho incansável, fruto duma fé
que se torna diálogo e semeia paz
no estilo contemplativo de Thomas Merton.
Nestas notas, procurei apresentar algumas das riquezas do vosso
patrimônio
cultural, do espírito do povo americano. Faço votos de
que este espírito
continue a desenvolver-se e a crescer de tal modo
que o maior número possível
de jovens possa herdar e habitar numa
terra que inspirou tantas pessoas a
sonhar.
Deus abençoe a América!"
Jailda Galvão Aires. Rio, 27/09/2015