Estou pensando em
mais um janeiro que escapa, sorrateiramente, entre nossos dedos. Imagino também
o privilégio que poucas pessoas tem de completar cem janeiros vendendo saúde,
elegância, beleza e uma memória fresquinha.
Risos, abraços e
recordações reuniram pessoas após décadas de desencontros. – Coisas do destino.
Tia Nair, estava
ali, colhendo os aplausos e afagos de todas as pessoas que a ama e que por ela são
amadas também.
Fico a pensar o
que leva alguém a longevidade com tanta vontade de viver. Será herança genética,
amigos, alimentação, trabalho incessante ou mingau de aveia todas as manhãs? Será
que era a energia gerada pela juventude? Incógnita. Tia Nair cumpriu todos estes
rituais.
A família
residia em Ilhéus, na Avenida Soares Lopes - beirando a praia.
Nas férias estudantis
a casa superlotava com a presença dos sobrinhos e amigos dos filhos. Muitas
tias ofereciam calorosa hospedagem, mas, todos só queriam ficar com tia Nair.
Havia ordem, respeito e horários a cumprir em todas elas, mas, tia Nair deixava
a galera aproveitar à praia. Não tínhamos que estar às doze horas, de banho
tomado, sentados à mesa almoçando.
A casa era
tomada pela algazarra, música, jogos, violões e cantoria.
Tio Abelardo
gostava também de casa cheia e estava sempre sorrindo.
Quando precisava
ralhar alguém ela o fazia com a franqueza de sempre e era conhecida pelo seu
toma lá dá cá.
Não guardava
rancor, não contava aos nossos pais qualquer deslise e logo mais estava
gargalhando com os jovens e sorrindo das brincadeiras.
Netos e bisnetos
provaram à saborosa sopa de feijão e as manhãs regadas à vitamina de abacate, café
com leite e pão fresquinho. O tempero de Nair tinha um toque pessoal de
carinho e amor. Meu pai adorava. E quem não?
Voltando à
festa. Houve um momento em que ela desabou em lágrimas. Eu estava ao seu lado
quando um violino com maestria sibilou: “ E agora que faço eu da vida sem você...”
Entre soluços
ela gemeu quase inaudível: - Que faço eu dá vida sem “vocês.” Era a forte
lembrança do esposo e do filho Cláudio que tão cedo partiu. Beijei-lhe o rosto,
alisei seus cabelos e murmurei: - Tia, eles desceram do
céu e estão aqui ao seu lado. Hoje é dia de alegria! Eles te querem sorrindo.
Lentamente ela serenou e voltou por inteira à sua festa.
Tia Nair não só rompeu a
barreira do tempo como também atravessou um século e adentrou o novo milênio
sendo a mesma pessoa que é. Felicidade nossa viver com ela e estar com ela aprendendo
amor, sabedoria, coragem, franqueza e vontade de viver.
Tia, a festa foi e sempre será
sua, mas o maior e melhor presente é nosso – ter você em nossas vidas.
MUITOS OUTROS JANEIROS VIRÃO.
Um beijo saudoso.
Jailda Galvão Aires