Há dias procuro palavras para externar a perda de uma pessoa muito amiga e muito querida por todos do Condomínio aonde vivemos.
Sempre nos referimos ao Mirante como “uma grande família” aqui fizemos e continuamos a fazer enriquecedoras e duradouras amizades. O entrosamento rápido entre os filhos dos condôminos sempre facilitou a amizade entre os pais. Aqui curtimos festas, churrascos, aniversários, partidas de futebol e dos momentos felizes em volta da piscina.
O casal Osório e Mercilda, pais de duas lindas filhas, esbanjava elegância e beleza revelando em boas conversas o sotaque oriundo dos Campos do Sul.
Mercy, preocupava-se muito com a preservação do planeta e sendo moradora de um grande condomínio logo observou a quantidade de lixo que diariamente era descartado de forma irregular. Aliaram-se a ela moradores que acataram a ideia e juntos trouxeram até condomínio pessoas especializadas que deram aulas sobre reciclagem, educando de forma lúdica também as nossas crianças. Esta prática saudável continua beneficiando o condomínio que sempre será grato a iniciativa da nossa saudosa moradora.
Preocupada também com o lado espiritual nossa querida Mercy criou um grupo que se reúne, uma vez a cada semana, na casa de uma das participantes.
Unidas, rezamos o terço, oramos pelos enfermos e necessitados, lemos a Bíblia procurando entender as benditas palavras do Livro Sagrado.
Crescer no amor é crescer em Cristo. Neste grupo de orações também trocamos ideias, experiência e até receitas deliciosas. Às vezes às queixas do dia a dia faz o encontro parecer um consultório psicanalista. Trocamos receitas e nos deliciamos com os petiscos gaúchos oferecidos pela amiga
Uma noite, antes das orações, Mercy, bastante preocupada e entristecida, contou-nos que os últimos exames laboratoriais diagnosticaram nela um câncer agressivo.
Um balde de água fria caiu sobre todas nós.
Portámo-nos a 2 Coríntios 12 onde Paulo descreve: -“Porque quando estou fraco, então é que sou forte.” Não desanimamos e procuramos não passar nenhuma descrença.
Guerreira como era repleta de esperança e fé, teve todo o apoio do esposo, das filhas, amigos e familiares.
Li em algum lugar que: “É difícil racionalizar diante da dor, nem todos sabem externar seu sofrimento, somos todos carentes diante de uma situação limite.”
Mercy, Enfermeira Cirúrgica, escritora e palestrante, mais do que ninguém conhecia passo a passo a gravidade da doença a que fora cometida. Sabia, lutava, acolhia a nossa força, segurava nas mãos do Altíssimo sem jamais perder a fé..
Todas as vezes que os cabelos caiam, a cada quimioterapia, seu rosto que muito lembrava a Julie Andrews era emoldurado por uma peruca perfeita ou um lenço que realçava ainda mais o brilho do seu rosto.
Há alguns anos mudou-se com Osório para Ribeirão Preto aonde residem suas filhas, genros e netos. Ao lado da família recebeu todo o amor, todo o carinho e todo cuidado necessário.
Todas as vezes que retornava ao Rio fazia questão de estar com as amigas, quer em casa, na piscina ou no clube.
O nosso último encontro foi num restaurante. Estava debilitada, exaurida, chegou a mencionar que este talvez fosse o nosso último encontro.
Jamais diremos que sim porque o que nos separa é apenas a sua presença física. Ela está nos nossos corações e presente em todos os encontros de orações dando o tom exato do hino de Consagração a Virgem que somente ela sabe o tom exato.
Quem disse que não houve milagre! Prolongou por dez longos anos, passou por todo o sofrimento sem deixar que o sorriso deixasse o seu rosto. Ao perceber que mais nada podia fazer desenvolveu uma das maiores virtudes - a aceitação.
E parafraseando Paulo disse para si mesma : -“ Combati um duro combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. “
Amiga o exemplo da sua força e da sua fé ficará conosco para sempre.
Descanse em paz nos braços de Jesus.
Suas amigas.
Jailda Galvão Aires.
18 de maio de 2016.
A quem interessar possa: Enfermagem Cirúrgica - Mercilda Bartmann