quinta-feira, 28 de setembro de 2017

ESCOLA DO CRIME


Em 2015, postei uma analogia entre matar as baratas e os cupins que inesperadamente enfestam nossas casas. Pesticidas só matam as que sobrevoam ou passeiam na calada da noite. Nos primeiros dias, eles aparecem mortos, sobre o chão.
Livres?! Não. Se não chegarmos ao ninho onde residem os "Reis e as Rainhas". Eles voltarão fortalecidos, armados e bem mais articulados.
Analogia?! Não. Verdade insofismável. 
Não podemos eliminar efeitos sem chegar às causas.
Estamos, neste momento, no Rio de Janeiro,
exterminando os efeitos enquanto os chefões repetem o chavão: ...”É como biscoito, morre um veem dezoito”. 
Nada contra as medidas emergenciais que no momento foram necessárias em relação a Rocinha.
Analisando as estatísticas da população carcerária no Brasil temos hoje, segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) 563.526 que somado aos 147.937 que vivem prisão domiciliar (em sua maioria a elite) atingiremos o total de 711.463 presos. Somos a terceira população carcerária do mundo. Os jovens de 18 a 24 anos representam um terço desta população. Oito% são analfabetos, 70% não concluíram o ensino médio e não chega a 1% os que tenham ingressado ou concluído o curso superior. A baixa escolaridade está diretamente associada à exclusão social. Mesmo nas prisões nem  13% tem acesso à educação. A Lei de Execução Penal, 7.210/1984 artigo 17 versa que todo o preso deverá ter ensino fundamental, formação profissional, biblioteca com livros didáticos e instrutivos e medidas socioeducativas. “Mente vazia oficina de satanás.”
A Lei de Diretrizes e Bases - LDB em sua Lei 9.394/1996 regulamentada pela Constituição Federal de 1988, artigo 208, inciso I assegura a toda à população brasileira o ensino fundamental gratuito mesmo para os adultos que não tiveram a oportunidade de estudar.
A ONU/1957 prevê o acesso à educação de pessoas mundialmente encarceradas. A Lei é um direito e não um privilégio.
Pasmem! O Brasil possui quase 2,5 milhões de crianças e adolescentes de 4 a 17 anos fora da escola.
Culpa de quem? Da roubalheira e do desvio de verbas destinadas a educação.
A grande massa corrupta do nosso país é responsável pela criminalidade, pela morte dos nossos soldados, civis e crianças inocentes.
É responsável por cada criança que tem sua infância roubada, aliciada pelo tráfico.
É responsável pela entrada de armamento pelas nossas fronteiras.
É responsável pelo mísero salário dos nossos soldados que morrem diariamente, em todo o país, na guerra contra o banditismo.
É responsável quando não dignifica e nem reconhece o trabalho dos professores pagando ínfimas e vergonhosas remunerações.
A explanação a cima mostra que não adianta exterminar os “cupins e as baratas” que, equipados com armas sofisticadíssimas assolam e dominam as nossas comunidades. Serão sempre substituídos.
É preciso ir à raiz do problema e ela reside na educação escolar de nossas crianças e jovens que deverá ser estendida a toda camada social. É necessária a criação de creches e escolas em tempo integral, como sempre defendeu o antropólogo e socialista Darci Ribeiro, vice-governador de Leonel Brizola/1983-1994 que ergueu em toda a periferia do Rio de Janeiro os “Centros integrados de Educação Pública – (CIEP) com aprendizado, alimentação completa, práticas esportivas, leitura e tratamento médico0 e odontológico.
Visitei alguns CIEPs e chorei ao ver as crianças felizes alimentadas, comportadas, estudando e praticando esportes. 
Os pais trabalhavam com a certeza que seus filhos não seriam alunos do tráfico. “Quem com porcos se mistura farelos come”.
Se este exemplo fosse continuado e implantado em todo o País seria reduzido grandemente o número dos que ingressam nas FUNABEMs da vida, dos delinquentes, e, reduzido o alto índice dos que se refugiam nas Cracolândias. Não veríamos o aniquilamento dos sonhos de duas gerações. 
Lamentavelmente o nosso País atravessa um período nefasto de sucateamento e desvio de verbas por parte de muitos políticos onde cresce a imoralidade dos subornos, e dos paraísos fiscais.
O Brasil está como um barco à deriva. As nossas crianças e a sociedade carente não tem escolas, hospitais, moradias, terra e nem emprego. Os nossos irmãos marginalizados encontram-se órfãos sem um mínimo de dignidade.
Temos consciência que somos um país grande e rico como em 1500 Pero Vaz de Caminha atestou: "Aqui, em se plantando tudo dá". 
Precisamos sim, exigir e cobrar dos nossos governantes, honradez, trabalho, devolução dos montantes sucateados e que a Constituição seja cumprida em tudo o que tange aos Direitos Sociais Básicos a cada Cidadão Brasileiro.
É preciso trazer o sorriso e a esperança ao rosto sofrido e desesperado dos que não tem como viver e sustentar suas famílias. 
É preciso que toda criança esteja, assiduamente, frequentando a escola e que possa, com orgulho, alegria e confiança entoar os confiantes versos do grande Olavo Bilac  -           
                                  A PÁTRIA. 
Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!
Criança! Não verás nenhum país como este!
Olha que céu! Que mar! Que rios! Que floresta!
A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,
 

                                     ...
Vê que grande extensão de matas, onde impera
Fecunda e luminosa, a eterna primavera!
Boa terra! jamais negou a quem trabalha
O pão que mata a fome, o teto que agasalha...


Quem com o seu suor a fecunda e umedece,
Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece!
Criança! Não verás país nenhum como este:
Imita na grandeza a terra em que
nasceste!

     Rio, 30/09/2017. Jailda Galvão Aires