“Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus
amigos” João 15-13
Hoje, 27 de janeiro de 2018, fazem exatamente cinco anos da imensurável tragédia ocorrida na madrugada do dia 27de janeiro de 2013 numa discoteca em Santa Maria no Rio Grande do Sul – Boate KISS - que vitimou 242 pessoas e feriu outras 680.
Entre as vítimas encontrava-se o filho de um casal de médicos respeitado
pelo profissionalismo e mui querido por toda a clientela e amigos que fizeram
durante toda a vida.
Sentimos de perto a dor pela amizade e vizinhança que temos há mais de 30 anos
como moradores do Condomínio Mirante de Copacabana.
Dr. Flávio Alexandre Lacerda e Dra. Carla Machado, ambos, médicos, pertencem
à casta das pessoas nobilíssimas que vieram a este mundo com o maior propósito -
servir ao próximo.
Tinham dois lindos filhos respeitados em suas profissões, amados pelos
superiores, pelos colegas de magistratura, escola e trabalho, e mui queridos aqui
no Condomínio aonde, até hoje, reside o casal.
Acompanhamos de perto a vida da família e testemunhamos
a educação esmerada que deram aos filhos: Adriano Machado de Lacerda, o mais
velho, médico endocrinologista e Leonardo Machado de Lacerda, tenente formado
pela Academia Militar das Agulhas Negras vítima entre tantos outros e mais um herói desta sofrida história.
Encontrava-me em casa quando uma amiga do terço – grupo de oração que
temos há mais de 15 anos – alertou-me que Leonardo Machado poderia estar entre
os jovens que pereceram na Boate Kiss. Partimos imediatamente para a casa do
casal, que, aflitos e ao mesmo tempo esperançosos aguardavam o telefonema do
filho.
Muitas conjecturas ocorreram, palavras de ânimo e orações silenciosas:
- Não pensem no pior... Leonardo pode estar hospitalizado e por isso mesmo não atendeu o celular. Vai ver que ele perdeu o aparelho enquanto socorria as vítimas...
- Lembrem que ele agora é um tenente e pode estar a serviço do Regimento de Santa Maria.
- Logo mais ele estará contando o que...
Muitas conjecturas ocorreram, palavras de ânimo e orações silenciosas:
- Não pensem no pior... Leonardo pode estar hospitalizado e por isso mesmo não atendeu o celular. Vai ver que ele perdeu o aparelho enquanto socorria as vítimas...
- Lembrem que ele agora é um tenente e pode estar a serviço do Regimento de Santa Maria.
- Logo mais ele estará contando o que...
Adriano, o irmão mais velho, já havia partido do Rio com destino a
cidade de Santa Maria.
Foram horas de espera com a dimensão de eternidade.
Flávio e Carla não paravam caminhando pelo apartamento esperando o
telefone tocar a cada instante. O silêncio se prolongava e com ele a angústia amarrada
a um fio tênue de esperança e fé.
Lembro-me com lágrimas nos olhos e profunda dor no coração o momento
exato em que Adriano ligou para os pais confirmando, infelizmente, a morte do filho
e irmão amado. O casal estava no corredor do apartamento e se abraçou apoiando-se mutuamente.
O mundo girou e soluços de dor encheram todo o ambiente. Minha cabeça entrou em pânico, meu coração em colapso. Fui trazida até o meu apartamento. Minhas amigas que ficaram deram todo o apoio e os familiares e amigos foram chegando pouco a pouco.
O mundo girou e soluços de dor encheram todo o ambiente. Minha cabeça entrou em pânico, meu coração em colapso. Fui trazida até o meu apartamento. Minhas amigas que ficaram deram todo o apoio e os familiares e amigos foram chegando pouco a pouco.
Os pais continuam buscando forças para superar a indescritível
perda e Adriano perdeu seu único irmão. Seus filhos não terão primos e nem o
tio amado estará presente nas noites de natal, nas festas escolares e nos aniversários.
O tenente Leonardo Machado de
Lacerda, de apenas 28 anos, fora velado no Cemitério Memorial do Carmo, no
Caju, aqui no Rio de Janeiro na presença de familiares, amigos e colegas de
farda.
O coronel Mário Fonseca, que fora representar o Comando Militar do Leste,
entre poucas palavras destacou a bravura de Leonardo: "Ele já tinha saído
e voltou para salvar outro oficial. Depois, de tirá-lo da boate, voltou mais
uma vez. Esta é uma atitude inerente aos oficiais do Exército".
Um amigo e vizinho
da família, Marcelo Moreira, entre lamentações e lágrimas externou todo o nosso
sentimento: “Ele morreu como um herói. Era um filho que todo pai gostaria de
ter. Não bebia, não fumava, não se metia em confusão. Estava muito feliz com a
transferência para o Sul e tinha ido à boate para comemorar com os novos
colegas”
Formado pela
Academia Militar das Agulhas Negras, Leonardo estava no Primeiro Regimento de Carros
de Combate de Santa Maria há apenas 15 dias.
Se hoje, dia 27 de janeiro, narro esta triste
história da qual testemunhei o sofrimento do casal amigo, é para lembrar a dor uníssona de todos
os pais, irmãos, familiares e amigos que perderam seus entes queridos e até
mais de um jovem naquela
fatídica noite.
É para levar solidariedade à família de todas as
vítimas mesmo aquelas que embora tenham sobrevivido amargam até hoje problemas
de saúde e marcas de queimaduras na pele e dores profundas na alma.
Se hoje, 27 de janeiro de 2018, relembro esta
triste história que comoveu e enterneceu o Brasil e o mundo é para que as autoridades
fiscalizem todos e quaisquer locais de entretenimento permitindo que os nossos jovens possam
se divertir em total segurança.
Foram muitos os erros primários apontados pelos
peritos que levaram a Boate Kiss a arder em chamas.
O Estado, em todos os seus níveis, precisa e tem o dever de proteger e dar
segurança a todos os nossos jovens e não permitir que tragédias como esta venha
tirar a vida de nossos jovens e marcar para sempre a existência de qualquer cidadão.
Se
hoje relembro esta noite de horror é para pedir justiça, pois, embora o
inquérito policial tenha apontado 28 pessoas responsáveis pela tragédia, entre eles os dois proprietários
da casa, quatro bombeiros e integrantes da Banda, um foi absolvido, dois
condenados pela Justiça Militar por expedição de Alvará de Licença e outro pela
Justiça Comum por fraude processual.
Pasmem! Todos cumprem em liberdade enquanto cada família
que enterrou seus filhos estará para sempre presa a uma dor indelével de
perda, saudade eterna, abandono e revolta.
Rio, 27 de janeiro de 2017.
Jailda Galvão Aires.