quarta-feira, 28 de abril de 2021

COVID-19 ENTRE PEDRAS E FLORES

 

Não devemos e nem podemos atirar pedras em ninguém, mesmo porque quem atira pedras é que tem britas e avalanches cultivadas no seu interior.
Só deveríamos atirar flores cultivadas no jardim da nossa verdadeira essência. Plantamos, regamos e colhemos as mais belas e perfumadas espécies.
Jesus disse: “Não julgueis para não serdes julgados e com a mesma balança que pesais, vos pesarão a vós e com a mesma medida que medirem, vos medirão também.”
Ouvi atentamente o vídeo abaixo, repleto de uma beleza imensurável e de uma grandeza que só os seres virtuosos reverberam em sua alma.

Não existem culpados por todas as mazelas que o “covide-19” se espalha vitimando em todo o planeta: Filhos órfãos,  desemprego em massa, famílias dizimadas pela fome, ou pela falta de de leito nos hospitais.
Os senhores do poder, engessados, procuram soluções, embora a ciência não explique porque  jovens e crianças sadias sucumbem a esta hecatombe, enquanto centenários, jovens sadios, recém-nascidos e crianças desnutridas, sem anticorpos, conseguem vencer a fúria deste vírus tão letal.
O mundo foi pego de surpresa e não podemos responder a tantas indagações.  Porque médicos,  enfermeiros e  a equipe hospitalar munidos de proteção, seguindo todas as orientações assépticas, contraem
Voltamos aos céus e perguntamos aonde se esconde Deus nesta hora, que aos olhos humanos parece não ser justo em sua infinita bondade.
Quem enviou ou criou este vírus invisível  capaz de paralisar o mundo, mexer com a economia, destronar poderosos e deixar os cientistas sem ação? 
Qual o propósito de tudo isto? 
Correto seria perguntar: "Para que" e não "por que" este caos se alastrou? 
Será uma lição ao egoísmo, à ambição, à roubalheira, ao individualismo, à indiferença alojados em muitos corações humanos? Será uma resposta à destruição da natureza, ao efeito estufa, à poluição dos rios e mares que recebem metais pesados na extração de minérios, matando centenas de seres vivos? 
Ao desmatamento e às queimadas das florestas em toda a Terra? 

Milhares fugitivos das guerras estão morrendo de fome e frio ou dizimados  pelo vírus nos "campos de concentração" - onde são jogados e esquecidos.

Perdoem-me se entro em contradição ao afirmar que todos merecem flores. Não. Nem todos as merecem. Os corruptos, os que desviam dinheiro destinados a compra de leitos, medicamentos, respiradores,  equipamentos de proteção e respiradores ineficientes e confeccionados com o intuito de ganhar dinheiro sujo; toda esta corja merece sim, ser apedrejada em praça pública, sem julgamento e sem piedade. Afinal são assassinos da fé e da vida humana. Facínoras que escondem as mãos sangrentas nos bolsos dos paletós de linho engomados, com os lucros depositados em bancos muito além das nossas fronteiras.

Que as flores cultivadas nos nossos jardins sejam oferecidas aos verdadeiros heróis – médicos, enfermeiros, coveiros, toda a equipe hospitalar e aos que dirigem ambulância de um hospital a outro correndo contra o tempo na tentativa de salvar vidas.
Aos anônimos  que distribuem marmitas aos moradores de ruas elevam gêneros alimentícios nas comunidades carentes.
Estes sim merecem como medalhas as flores mais belas e perfumadas da gratidão. 
Medalhas estas  colocadas sobre o coração dos verdadeiros seres humanos, altruístas, sensíveis, missionários, capazes de dar a vida pelo semelhantes honrando o juramento de Hipócrates: “Eu prometo solenemente consagrar minha vida ao serviço da humanidade; a saúde e o bem-estar de meu paciente serão as minhas primeiras preocupações.”
E àqueles que perderam a vida de seus entes queridos, revoltados pelo descaso e pela falta de vagas nos hospitais públicos?
Fica o nosso pedido de desculpas, a nossa solidariedade, vertidas sobre coroas de flores roxas de dor, pedindo aos céus que os consolem e reanimem, protegidos com as "armas da fé e a couraça da justiça."

Rio, 09/05/2020. Jailda Galvão Aires.

terça-feira, 17 de novembro de 2020

Consciência Negra

  • Porque este resíduo de um passado negro
  • Que escravizou, humilhou, torturou
  • Obstruindo os caminhos da liberdade
  • Desterrando e trazendo em navios sangrentos

  • Arrancou dos braços o filho lactente
  • Separou famílias com a força do poder feudal
  • enjaulando seres iguais, em fétidas senzalas.
  • para servirem ao branco que se julgava um semideus.
  •  
  •  Humilhados, marcados à ferro como bois de carga
  • vendidos em praças públicas como animais acéfalos,
  • Porque nasceram em tribos e tinham  a pele negra.
  • Caçados nas matas e vendidos pelos próprios irmãos.
  •  
  • Negras são as consciências enlameadas pelo preconceito
  • Que disfarçadamente, ainda existe nos corações enlatados. 
  • Feios corações que ainda guardam o ranço de séculos sem glória.
  • Séculos da vergonhosa escravidão.


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quinta-feira, 29 de outubro de 2020

29 DE OUTUBRO - DIA NACIONAL DO LIVRO.

      O Dia Nacional do Livro é celebrado, em todo o Brasil em 29 de outubro.

A data é uma homenagem à fundação da Biblioteca Nacional do Brasil em 1810, com a vinda da família real.

A Biblioteca fica na cidade do Rio de Janeiro e é considerada, pela UNESCO, uma das dez maiores bibliotecas nacionais do mundo, sendo a maior biblioteca da América Latina. Seu acervo é calculado em cerca de nove milhões de itens.

Infelizmente, o índice de analfabetos no Brasil é de 11 milhões de pessoas, concentrando o seu maior número no nordeste e nas regiões agrícolas.

Estima-se que, para erradicar o analfabetismo no País seriam necessários 200 mil alfabetizadores. Para isso seria necessário erradicar a pobreza que afasta as crianças e os jovens da escola. Os livros são trocados pelos roçados e as canetas pelo cabo de enxada na agricultura de subsistência.

Transcrevo aqui os versos de um dos mais importantes poetas do século XIX, Antônio Frederico Castro Alves que nasceu na Bahia em 1847. Apesar dos séculos que nos separa, Castro Alves continua presente na literatura defendendo temas, que, infelizmente continuam atuais e presentes na sociedade brasileira. Antes a escravidão negra. Hoje a escravidão dos poderosos sobre os necessitados; o preconceito e o analfabetismo.

No seu poema intitulado O LIVRO E A AMÉRICA/1870, mostra nitidamente quanto O Poeta dos Escravos se engajava nos problemas sociais da época.

“Por uma fatalidade
Dessas que descem de além,
O sec'lo, que viu Colombo,
Viu Gutenberg também.
Quando no tosco estaleiro
Da Alemanha o velho obreiro
A ave da imprensa gerou...
O Genovês salta os mares...
Busca um ninho entre os palmares
E a pátria da imprensa achou...

Por isso na impaciência
Desta sede de saber,
Como as aves do deserto —
As almas buscam beber...
Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n'alma
É germe — que faz a palma,
É chuva — que faz o mar.
                   ...
Bravo! a quem salva o futuro
Fecundando a multidão!...

Num poema amortalhada
Nunca morre uma nação.
Como Goethe moribundo
Brada "Luz!" o Novo Mundo
num brado de Briaréu...
Luz! pois, no vale e na serra...
Que, se a luz rola na terra,
Deus colhe gênios no céu!...”

 

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sexta-feira, 23 de outubro de 2020

DIA DO NORDESTINO

  O dia 08 de outubro foi escolhido para comemorar o  Dia do Nordestino.  Pesquisa nº 1 - "A data, oficializada em 2009, busca combater o preconceito e homenagear a parcela do povo brasileiro originária da região nordeste".

Nº 2 - "A data comemorativa foi criada no ano de 2009 em São Paulo, homenageando o centenário do nascimento de Antônio Gonçalves da Silva, mais conhecido como Patativa do Assaré, poeta popular, compositor e cantor cearense.”

"No Estado paulista, a data virou a Lei 14.952/2009 criada pelo então vereador Francisco Chagas. O intuito é celebrar as raízes e as tradições culturais dos nordestinos, além de relembrar a vida e obra do autor cearense, "representando todos os nordestinos e nordestinas, ainda vítimas de preconceito e discriminação em função de sua origem geográfica.."

"A região Nordeste é composta pelos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. Corresponde a 18,26% do território nacional.  Com mais de 56 milhões de habitantes. Em termos populacionais, a segunda maior do país.” 

Patativa do Assaré foi uma das maiores figuras nordestinas do século passado. O repentista, poeta, escritor, teve reconhecimento nacional. Além de muitos prêmios recebidos. Por cinco vezes "Doutor Honoris Causa."

"Patativa" alusão a um pássaro nordestino de canto bonito e triste - merece por toda sua história de luta, sofrimento e sobrevivência não só uma crônica, como a nordestina, que aqui escreve. Merece uma enciclopédia inteira, como merecem outros nordestinos como: Catulo da Paixão Cearense, Ariano  Suassuna, Luiz Gonzaga, Castro Alves, Rui Barbosa e outros "imortais" em todas as áreas do conhecimento humano. O nordeste continua se destacando no mundo intelectual, nas letras, na música, na arquitetura, na advocacia, no jornalismo, na oratória, nas relações internacionais, chegando a ocupar a presidência do Supremo Tribunal Federal e, por várias vezes a Presidência do País.  

Como baiana arretada e orgulhosa nordestina que sou uma questão me chamou muito a atenção, não pela data em si que homenageia nomes imortais e  toda a cultura rica e diversificada que o nordeste acrescenta ao Brasil, mas, por apenas um nome maldito e abominável: PRECONCEITO!

A data fora escolhida objetivando também combater o preconceito     e a descriminação sofrida em função de sua origem geográfica. Provavelmente a região onde a seca predomina e uma parcela do Brasil vive esquecida, marginalizada e a evasão escolar é expressiva porque as crianças, como Patativa do Assaré, trocam a caneta pelo cabo da enxada, para ajudarem os pais na lavoura de subsistência para não morrem de fome. Certamente este olhar preconceituoso não recai sobre a faixa litorânea do país, com seus 3.338 quilômetros de praias. Não. Esta é rica e atrai o turista. Turismo aquece e enriquece.

Moro no Rio de Janeiro e lamento que a Cidade Maravilhosa esteja perdendo os "encantos mil" para o tráfico e a milícia dominante como vem acontecendo com outras grandes cidades e capitais do País.

Ouço, diariamente, a elite culpar os nordestinos por todas as mazelas: Da mendicância à ocupação das ruas pelos sem teto.

- Quem é o responsável pelos danos que vêm destruindo este outro "Brasil Seleto"? 

-Não. Não é o migrante nordestino que faz o trabalho pesado que a   elite tanto despreza!

- Quem destrói as grandes capitais são pessoas, abastadas e alienadas  que, encontram nas drogas, o prazer que o trabalho pesado não lhes dá porque, muitos nem precisam trabalhar. É todo aquele que alimenta      o tráfico e todo o seu poderio.

- São os políticos sujos que desviam as verbas destinadas à educação, à saúde, à moradia, às causas sociais e também para sanar o problema da seca. A transposição do Rio São Francisco saiu do papel em 2007 e vem se arrastando há mais de 14 anos. 

Em 2017 o Velho Chico salvou 500 mil paraibanos da severa estiagem. Este ano mais um trecho foi inaugurado e, em julho de 2021 será concluído. " Se permitirem."  

Todos sabem que subsolo tem água para irrigar toda a região, mas, a "indústria da seca" é a galinha dos ovos de ouro!). Para que então solucioná-la?

- São as empreiteiras, as fábricas e os grandes empresários sonegando os impostos fiscais e enriquecendo também às custas dos trabalhadores braçais.

Infelizmente, com grande pesar, preciso admitir que o preconceito existe, a céu aberto: Nordestino, cabeça chata, paraibano, sujos, cearense, Severinos, porteiros, rudes, analfabetos, rodou a baiana e, por aí vai. 

Esquecem os elitistas, incultos,  não todos, que quem construiu e continua construindo este Brasil gigante é o nordestino. Nas Selvas de Pedra e Concreto, toda obra pesada é feita, em quase sua totalidade, por nordestinos e suas gerações: Os arranha-céus, igrejas, escolas, metrôs, rodovias, hospitais, teatros e, os subsolos por onde escorrem água, gás, e excrementos humanos.

Os troféus dourados luzirão à vaidade dos doutos. Os calos bordarão as mãos de quem realmente carregou pedra e preparou os alicerces para as grandes construções. Infelizmente, seus filhos não estudarão nas escolas construídas e nem nadarão nas piscinas suntuosas das mansões. O mesmo acontecerá com os teatros, os hospitais particulares e todo o universo que separa e descrimina.

Os grãos, as frutas, os legumes que chegam aos mercados são plantados e cultivados por nossos irmãos, sob a chuva, ou, sob o sol escaldante. O mesmo acontece com a carne, o leite e seus derivados, que chegam às nossas mesas.

Nordestino já nasceu forte, arretado, coaching. Aprendeu a tirar água de pedras. Riem das adversidades. São os melhores comediantes.

A sua música quente que balança e requebra o corpo de qualquer mortal, saiu do Brasil e tomou os palcos do mundo inteiro.  Hoje, novos e  sofisticados instrumentos se juntaram à sanfona, ao triângulo e a zabumba.

Preconceito em cima de quem?! De quem, diariamente, nos ensina a viver? 

Albert Einstein, já dizia: " É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito."

Continuo lembrando: Qualquer forma de preconceito e descriminação é crime previsto na Lei.

Não queremos um dia na folhinha dedicado aos verdadeiros heróis deste País. Queremos respeito, unidade, estima, orgulho e reconhecimento. 

Quem Construiu Brasília? Quem Construiu Tebas?

Deixo transcrito os versos do grande poeta Bertolt Brechet, mesmo sabendo que esta pergunta não se calará jamais:

"Perguntas de um trabalhador que lê.

Quem construiu a Tebas de sete portas?
Nos livros estão nomes de reis.
Arrastaram eles os blocos de pedra?
E a Babilônia várias vezes destruída. Quem a reconstruiu?
Em que casas da Lima dourada moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros, na noite em que a Muralha da China ficou pronta?
A grande Roma está cheia de arcos do triunfo.
Quem os ergueu? Sobre quem triunfaram os césares? 

Bertolt Brechet


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segunda-feira, 22 de junho de 2020

SÃO JOÃO EM ITAMOTINGA

Falar de São João é viajar no túnel do tempo e reviver a minha doce infância, mais bela e festiva que as noites de Natal.
Jayme Galvão começava a preparar o licor de Jenipapo, seis meses antes. Não existia nenhum licor no vilarejo que tivesse melhor sabor.
A compra dos fogos de artifício e a fogueira também ficavam a cargo do meu amado e inesquecível pai. Traques, bombinhas, cobrinhas,chuveirinhos, carrapetas, estrelinhas e pequenos balões.
A preparação da canjica (curau), do mungunzá, das pamonhas, dos pés de moleque e outras iguarias juninas ficavam a cargo de Zildinha, minha doce incomparável mãe.
O quintal virava um dia de festa. Sentados numa esteira em círculo, eu e meus quatro irmãos, vizinhos, ajudantes, primos,  tínhamos que descascar uma montanha de milho e debulhar uma a uma. Mais de 10 cocos eram abertos, ralados e extraído o leite de coco. O milho era processado, manualmente, numa máquina moedora, passado por peneiras e colocado num caldeirão grande. Mamãe, temperava o curau com todos os ingredientes sem esquecer o cravo e a canela. O caldeirão era levado ao fogão e mexido com colher de pau para que não encaroçasse. O abano controlava as brasas que crepitavam em leves fagulhas. Era uma algazarra geral. Minha mãe, lenço lindo na cabeça, conversava sem parar e sorria em seu corpo pequenino, como se fosse a rainha do formigueiro junino. Meu pai ajudava a mexer o caldeirão que ia pouco a pouco engrossando e pesando mais e mais. O ponto final era dado por minha mãe que jamais perdia o corte da canjica.
Todas as iguarias eram preparadas com igual rigor. O sal e o açúcar obedeciam o paladar materno que jamais falhava.
A casa inteira era iluminada pelos aladins e candeeiros rigorosamente lavados para que brilhassem muito mais.
A canjica era despejada em diversas travessas e as pequenas, enviadas aos vizinhos e amigos mais queridos.
A mesa da sala de visita, com toalha de festa era enfeitada com uma mine fogueira azul tendo ao centro um vazo verdejante de arroz plantado dois meses antes. As garrafas de licor eram adornadas com silhuetas de mulheres lindas.
Os pratos com as iguarias eram distribuídos por toda a mesa.
A tão sonhada noite chegava lentamente.
Meu pai ligava o único rádio do arraiá o mais alto que pudesse. Escancarava as janelas e portas que se enchiam para escutar Luiz Gonzaga que abria o fole e cantava:
"A fogueira tá queimando
Em homenagem a São João
O forró já começou
Vamos gente, rapapé nesse salão."
A frente das casas, fogueiras crepitavam em fagulhas que se erguiam ao céu, beijando as estrelas. A fogueira do meu pai era a mais alta, bela e imponente. Do tamanho da sua alegria e da sua coragem.
Todos os anos, os fogos eram comprados na cidade vizinha de Coaraci ou Itabuna. Quando saltava do cavalo meu pai, combinado com minha mãe, escondiam o pacote sobre o guarda-roupa e dizia para os filhos: -Este ano não vai ter fogos. Não encontrei em lugar nenhum. Fingíamos entristecidos sem revelar que o esconderijo já era conhecido pelos filhos e primos.
Itamotinga que não tinha luz elétrica era iluminada pelas fogueiras que jorravam fagulhas
a mercê dos ventos. O arraial era o mais belo do mundo. O céu descia à terra.
A criançada menos favorecida aportava à nossa casa sabendo que todos os anos recebiam pacotinhos de fogos carinhosamente preparados.
Era lindo e emocionante, olhar para as serras que circundavam o lugarejo e ver as pessoas das fazendas vizinhas descendo em fila iluminadas por fifós. Pareciam estrelas cadentes descendo com vestidos novos e camisas estampadas, comprados na única loja do seu Jayme e Dona Zilda. Era um ritual vestir roupas novas de chita e camisas quadriculadas.
Ainda escuto o som das sanfonas e vozes cantando baião, xaxado e forró.
Ainda escuto o som da nossa própria alegria e de todas as pessoas que se visitavam perguntando:
- São João passou por aí?
Meus pais com sorrisos largos respondiam:
- Passou sim. Entrem e venham saborear os pratos à mesa e um cálice de licor de Jenipapo.
O mais lindo de tudo isto é que nossa pequena Itamotinga se unia  e se irmanava no mesmo DNA da alegria.
A lua branca abria um sorriso largo e dançava sem perder o brilho majestoso, enquanto as estrelas desciam e se misturavam com o chuvisco ardente e flamejante das fogueiras acesas.
Na manhã seguinte, toras de madeiras caídas a chão em meio a cinzas e brasas vivas esquentavam a nossa saudade e a certeza que São João dançou e cantou até o amanhecer.
Rio, 22/06/2020 Jailda Galvão Aires.