sexta-feira, 28 de abril de 2017

TRIBUTO A UMA MULHER COARACIENSE - Caderno Cultural de Coaraci, abril de 2017.


Uma Mulher ao lado de um Grande Homem!”

Homenagem do Caderno Cultural de Coaraci à Dona Zildinha Galvão 

“Ao lado de um grande homem há sempre uma grande mulher”. Dentre tantas mulheres que apoiaram seus companheiros, posso com grande orgulho, destacar neste texto, a minha querida e saudosa mãe carinhosamente chamada por todos de Dona Zildinha - esposa de seu Jayme Galvão da Loja A Girafa. 
Mamãe passou parte da sua infância ao lado de seus irmãos na Fazenda Pimenteira. Seu pai, abastado fazendeiro perdera quase tudo apoiando políticos, sendo depois abandonados por eles. (Nada de novo no mundo político). Minha avó falecera ainda muito jovem e meu avô não resistindo à dor cruel da saudade e pressentindo que a vida também lhe evaporava, tomou cada filho pela mão e foi deixando um a um na casa de um conhecido para serem criados. Seis irmãos – seis vidas separadas. Longos anos se passaram...Jayme e Zilda se conheceram e mais tarde se casaram. Começaram literalmente do zero. Residiram em Itabuna, Itapitanga, Cafundó estabelecendo-se depois em Itamotinga aonde com garra, suor e muito trabalho começaram a prosperar. Minha mãe à noite, quando os cinco filhos dormiam, fazia chupetas, pirulitos e bananadas para vender na loja aumentando a renda familiar, nossa casa fora pouco a pouco se transformando numa pequena empresa familiar. Ao entardecer à luz de candeeiros e depois de um Aladim, minha mãe pedalava a máquina Singer, costurando embornais; calções e vestidinhos, aproveitando qualquer retalho que sobrasse de tecido. A família, pai e filhos, destacavam as peças confeccionadas dando os arremates finais.

O casal recebia a todos com imensa alegria. Os saraus tomavam conta da noite enquanto a criançada brincava na rua à luz da gigante lua. Outra grande guerreira é a nossa querida tia Anadir, enfermeira diplomada em Salvador. Enquanto minha mãe trabalhava na loja ao lado de meu pai, ela administrava a casa. Se alguém do lugar se ferisse corria imediatamente a nossa casa e ali era acudido e medicado pelas duas irmãs. Com o nosso crescimento tivemos a necessidade de dar continuidade aos estudos, então nos mudamos para Coaraci aonde cursamos o “ginásio” e nos formamos. Em Coaraci as duas grandes guerreiras continuaram a incessante luta. Minha mãe trabalhando na Loja, ao lado do grande homem que também fora Jayme Galvão, tendo sempre um sorriso e uma palavra amiga para qualquer pessoa que necessitasse. Dona Zildinha, evangélica, não perdia a oportunidade de falar de amor para aquele que chegasse com a alma em frangalhos. 


Tia Anadir exerceu a profissão de enfermeira no Posto Médico acudindo aos enfermos com verdadeiro amor e abnegação. O povo sempre dizia: Doente que a irmã Anadir cuida não morre - sai mais fortalecido. Anadir não precisou estar ao lado de alguém para ser o que sempre foi - uma grande mulher! Duas irmãs. Dois exemplos de vida. 
Autora: Jailda Galvão (Filha).

Caderno Cultural de Coaraci, 6 anos com você - 52.700 exemplares distribuídos

Gratuitamente.

ABRIL -TRIBUTO À UMA MULHER COARACIENSE  2017


domingo, 23 de abril de 2017

CARTA A CASTRO ALVES NO DIA MUNDIAL DO LIVRO.



Querido Castro Alves, sendo hoje o dia Mundial do Livro não poderia deixar de reler um dos seus maiores poemas intitulado: “ O Livro e a América”  nesta obra inigualável o grande poeta pede ao povo brasileiro que encha as mãos de livros porque só o saber poderá tornar independente uma nação. Com grande pesar, caro mestre, venho lhe dizer que após um século e meio da sua partida tão precoce neste mundo – vinte e quatro anos apenas, o Brasil continua lendo muito pouco. As últimas pesquisas revelam que setenta% dos brasileiros não leram um só livro no espaço de um ano. Porque razão o Brasil lê tão pouco? Falta de incentivo? Analfabetismo? Livros caros?

Quando da tua passagem na Terra, fostes um ferrenho lutador contra a escravidão que manchava as páginas de nossa nação. Não queiras saber, poeta amigo... Hoje todos nós somos escravos do sistema, da roubalheira, da falta de emprego, das filas nos hospitais sem leito e sem medicamentos. As calçadas servem de moradia para os muitos sem teto e sem expectativa de trabalho. A bandeira está manchada e ultrajada pela falta de dignidade, justiça e honradez dos nossos líderes.  Porque como tu bem dissestes em: O Navio Negreiro, a nossa bandeira está sendo ultrajada ao “ cobrir tanta infâmia e cobardia!...”

As musas inspiradoras dos poetas não poderiam lavar com suas lágrimas o nosso pavilhão sangrado. Melhor seria que:

“Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...”

Como disse a cima transcrevo aqui o conselho do jovem poeta, lutador e visionário, para que os nossos jovens, futuro desta nação, despertem e comecem a devorar livros e mais livros porque só assim o País poderá levantar do “Berço Esplêndido” e se erguer como uma nação jovem, forte, valorosa, honrada, próspera e feliz.

"Filhos do século das luzes!
Filhos da Grande Nação!
Quando ante Deus vos mostrardes,
Tereis um livro na mão:
O livro — esse audaz guerreiro
Que conquista o mundo inteiro
Sem nunca ter Waterloo...
Éolo de pensamentos,
Que abrira a gruta dos ventos
Donde a Igualdade voou!


Por uma fatalidade,
Dessas que descem de além,
O século que viu Colombo,
Viu Gutenberg também.

Quando no tosco estaleiro
Da Alemanha o velho obreiro
A ave da imprensa gerou...
O Genovês salta os mares
Busca um ninho entre os palmares
E a pátria da imprensa achou.
 

Por isso na impaciência
Desta sede de saber,
Como as aves do deserto —
As almas buscam beber...
Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n′alma
É gérmen — que faz a palma,
É chuva — que faz o mar.

 

Vós, que o templo das ideias
Largo — abris ás multidões,
P′ra o batismo luminoso
Das grandes revoluções,
Agora que o trem de ferro
Acorda o tigre no cerro
E espanta os caboclos nus,
Fazei desse «rei dos ventos
— Ginete dos pensamentos,
— Arauto da grande luz!...

Bravo! a quem salva o futuro,
Fecundando a multidão!...
N′um poema amortalhada
Nunca morre uma nação.
Como Goëthe moribundo
Brada «Luz!» o Novo Mundo
N′um brado de Briareu..,
Luz! pois, no vale e na serra...
Que, se a luz rola na terra,
Deus colhe gênios no céu!..."

Descanse em paz, poeta, "gênio que o céu colheu."  rogo a Deus que do teu túmulo não venhas jamais escutar os gemidos de protestos que ainda clama o teu povo.
Rio, 23 de abril de 2017.
Jailda Galvão Aires.