quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

DIA DA ADVOGADA


Parabéns a todos os advogados e advogadas do Brasil!
A princípio fiquei a questionar porque um dia dedicado ao advogado (11 de agosto) e outro dedicado à advogada (15 de dezembro). 

Seria  justo se nós, mulheres, lutamos por igualdade social, por direitos iguais?! 

Tive então a curiosidade de pesquisar e encontrei na figura de uma mulher um grande tesouro que não divide que não separa mas que justifica, enaltece e enobrece o mundo jurídico acrescentando - o” Dia da Mulher Operadora do Direito”. Este tesouro tem um nome: Myrthes Gomes de Campos, a primeira mulher advogada do Brasil.
Myrthes, nasceu em Macaé no Rio de Janeiro, no ano de 1875. Ainda criança mostrava interesse pelas leis, opondo-se a tudo que fugisse ao caminho da justiça.

Posso imaginar vê-la, ainda menina, pondo-se a defender  seus colegas, amigos e todas as pessoas que sofressem qualquer injustiça. Myrthes viveu numa época em que a maioria das mulheres era proibida de estudar, trabalhar fora do lar e muito menos escolher uma profissão que só era permitida aos homens.  A mulher aprendia prendas do lar restando-lhe a escolher poucas profissões como  enfermagem ou professora. A coragem de Mhyrtes a levou, ainda cedo, a residir no Rio de Janeiro vindo a ingressar na Faculdade Livre de Ciências Jurídicas e Sociais. Bacharelou-se em 1898, mas, somente em 1906 teve seu diploma legitimado, passando em seguida a fazer parte do Instituto dos Advogados do Brasil.

Foi a primeira mulher a atuar como defensora no Tribunal do Júri. Em seu primeiro pronunciamento, Myrthes fez questão de defender, ressaltar e mostrando a importância da mulher em todas as instituições judiciais. Deixo aqui parte do seu discurso de defesa:

[...] Tudo nos faltará: talento, eloquência, e até erudição, mas nunca o sentimento de justiça; por isso, é de esperar que a intervenção da mulher no foro seja benéfica e moralizadora, em vez de prejudicial como pensam os portadores de antigos preconceitos.(O País, Rio de Janeiro, p. 2, 30 set. 1899)

Durante 20 anos atuou na Jurisprudência do Tribunal de Apelação do Distrito Federal. (1926 até 1946)

Foi colunista do Jornal do Comércio publicando também artigos jurídicos na Revista do Conselho Nacional do Trabalho, na Folha do Dia e na Época.

Seus artigos foram um marco no campo da jurisprudência em prol da liberdade feminina através do voto feminino e a emancipação jurídica da mulher.

Deixo mais uma curiosidade no pouco que pesquisei: “ Foram necessários 55 anos desde a estreia de Myrthes no mundo jurídico para que outra juíza tomasse posse no Brasil. O fato ocorreu somente em 1954 com a magistrada Thereza Grisólia Tang de Santa Catarina. Outros 46 anos se passaram até que uma mulher, Ellen Gracie, fosse admitida no STF.” E hoje, com orgulho, incluímos a então Ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal.

Por isso posso agora, como um arauto, bradar em bom tom, pulmões abertos e peito estufado: Parabéns a todas as advogadas do Brasil!
Rio, 15 de dezembro de 2016.
Jailda Galvão Aires

sexta-feira, 10 de junho de 2016

SODOMA, GOMORRA E O BRASIL



A folha de São Paulo, no último dia 25 de maio, divulgou uma conversa entre o ex-presidente  da Transpetro, Sérgio Machado e o Senador Renan Calheiros. Os dois procuravam uma saída que pudesse barrar a citada “operação” porque se a mesma fosse levada a fundo “não havia escapatória  para Sr. ninguém”.

Machado reafirmou: - “não escapa ninguém de nenhum partido”. “Do Congresso, se sobrar cinco ou seis, é muito”.
Sugere então ao Senador Calheiros “passar uma borracha no Brasil.”
O senador teve a “brilhante ideia” que poderia ser a tábua de salvação:
- “Antes de passar a borracha precisa fazer três coisas”:
Primeiro: - “Nenhum preso poderá fazer delação premiada porque esta atitude regulamenta a delação.” 
A segunda seria negociar com membros do STF a “transição” da presidente afastada Dilma Rousseff.”
A terceira... Esta ficou inaudível e se perdeu entre outras sugestões que pudessem encobrir toda a podridão que o Brasil inteiro está calejado de saber.
O diálogo foi recheado de palavras torpes como: medo, negociações, propinas, plano de fugas, compra de sigilo e etc.
Esse texto me fez lembrar uma passagem muito conhecida do Velho Testamento quando Deus, indignado com o desvio moral e ético das cidades de Sodoma e Gomorra, resolveu bani-las da face da Terra.
As negociações com Deus são sempre unilaterais. Deus não negocia. Deus decide.
Mas, como Deus amava muito Abraão, tentou ouvir as súplicas daquele que seria, segundo a aliança divina, - “O pai de muitas nações.”
Vejamos o diálogo:
Abraão pergunta a Deus: "Exterminarás o justo com o ímpio?”
Abraão conhecia Deus e sabia de Sua Justiça, por isso continuou perguntando:
- “Se porventura houver cinquenta justos na cidade, destruirás também, e não pouparás o lugar por causa dos cinquenta justos que estão dentro dela?”
Abraão quebra o longo silêncio e insiste:
-Não faria justiça o Juiz de toda a terra?
Deus respondeu:
- “Se eu em Sodoma achar cinquenta justos dentro da cidade, por amor a eles a pouparei.”
Abraão conhecia muito bem os moradores da cidade e sem tanta certeza, tornou a perguntar:
- “Se porventura de cinquenta justos faltarem cinco, destruirás por aqueles cinco toda a cidade?”.
Deus respondeu que se houvesse ali, quarenta e cinco justos Ele não destruiria a cidade.
O diálogo se alongou e Abraão tentava, a todo custo, interceder pelos moradores de Sodoma. A incredulidade a respeito dos justos foi lhe enfraquecendo a voz e, Abraão foi baixando de cinquenta para quarenta e cinco, depois para quarenta, para trinta, até chegar a dez justos.
Mais uma vez recorre à misericórdia de Deus:
... - “E se apenas dez forem encontrados?"
E Deus assegurou: "Por amor aos dez não a destruirei".
Infelizmente, em Sodoma, não havia dez justos.
Havia ali apenas um homem justo por nome Ló, sua mulher e duas filhas. Dois anjos, a mando de Deus, conduziram a família de Ló, composta por 4 (quatro) membros à cidade de Zoar.
A orientação divina foi dada para que ninguém voltasse o olhar a fim de ver a destruição das cidades, mas, a esposa de Ló, não vencendo a curiosidade “feminina”, voltou-se e imediatamente foi petrificada numa estátua de sal.
(Olhar o passado pode nos deixar paralisados). Pensemos nisso.
Após as narrativas, onde fica a conexão entre as cidades destruídas e a cidade Brasileira erguida no Planalto Central?!
Em Sodoma havia um justo que fora salvo e as suas duas filhas. Somavam apenas 3 (três) pessoas.
Na contagem feita pelo Senador Calheiros e Sérgio Machado não escaparia ninguém de nenhum partido...
E do Congresso, se escapasse cinco ou seis, seria muito.
Após breve analogia fico a me perguntar:
Se a ira de Deus caísse sobre o Brasil quem sobraria? Não vou apontar Brasília como único alvo porque a Capital é o centro que reúne os representantes de todos os estados e capitais do país.
Voltando a narração bíblica é importante ressaltar que ao contrário dos que muitos pensam e apregoam a respeito da cidade de Sodoma narrada em Gênesis, primeiro livro do Velho Testamento, não foi somente a depravação sexual que irou a Deus, mas, a conduta ética e política dos seus dirigentes e abastados moradores.
Vejamos o que nos diz Ezequiel 16:49-50:
“Eis que esta foi a iniquidade de Sodoma, tua irmã: Soberba, fartura de pão, e abundância de ociosidade teve ela e suas filhas; mas nunca fortaleceu a mão do pobre e do necessitado. E se ensoberbeceram, e fizeram abominações diante de mim; portanto, vendo eu isto as tirei dali."
O nosso gigante Brasil precisa urgentemente ser passado a limpo, reescrito por mãos honestas, dotadas de vontade e desejo de ver todos os seus filhos colhendo os dourados frutos do progresso.
Os crimes da bandidagem e da corrupção jamais serão esquecidos e escondidos como desejam, os mercadores poderosos, que tentam a todo custo passar uma borracha apagando a podridão. Podridão não se apaga porque cheira mal, abetuma e deixa marcas para sempre. É uma mancha que se estende muita além das nossas fronteiras.
Não espero que Deus envie fogo e enxofre do céu para destruir as nossas cidades ou a Grande Cidade mesmo porque não será necessário que desça a ira divina.
A ganância dos poderosos, em todos os setores, há muito, vem escravizando e se apossando do suor dos que trabalham.
Há muito veem queimando a esperança dos jovens e roubando os idosos que pagaram seus impostos e recebem em troca - migalhas de uma aposentadoria vergonhosa!
O próprio homem ceifa vidas quando deixa seus irmãos morrerem de frio e fome.
Mata nos corredores dos hospitais sem leitos, sem atendimentos e sem medicamentos.
Mata quando procrastinam o pagamento dos seus trabalhadores. Mata a fé das nossas crianças e dos nossos jovens quando não constroem escolas e não as abastecem de livros.
Mata quando paga mal aos professores, aos bombeiros e a todos aqueles que são assassinados diariamente tentando salvar vidas.
Como disse filósofo inglês Thomas Hobbes “O homem é o lobo do homem.”
Eu reafirmo: O homem é o carrasco do próprio homem.
Jailda Galvão Aires.
Rio, 09 de julho de 2016.
Apenas uma observação: "O arqueólogo bíblico, Ron Wyatt descobriu as ruínas de Sodoma e Gomorra no sudeste do Mar Morto em 1989. Milhões de bolas de enxofre parcialmente incineradas e toneladas de cinzas foram encontradas. Evidência de calor superior a 4000 graus Fahrenheit pode ser visto na rocha e estratos".

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Mercilda Bartmann - Um exemplo de vida!



Há dias procuro palavras para externar a perda de uma pessoa muito amiga e muito querida por todos do Condomínio aonde vivemos.
Sempre nos referimos ao Mirante como “uma grande família” aqui fizemos e continuamos a fazer enriquecedoras e duradouras amizades. O entrosamento rápido entre os filhos dos condôminos sempre facilitou a amizade entre os pais. Aqui curtimos festas, churrascos, aniversários, partidas de futebol e dos momentos felizes em volta da piscina.
O casal Osório e Mercilda, pais de duas lindas filhas, esbanjava elegância e beleza revelando em boas conversas o sotaque oriundo dos Campos do Sul.
Mercy,  preocupava-se muito com a preservação do planeta e sendo moradora de um grande condomínio logo observou a quantidade de lixo que diariamente era descartado de forma irregular. Aliaram-se a ela moradores que acataram a ideia e juntos trouxeram até condomínio pessoas especializadas que deram aulas sobre reciclagem, educando de forma lúdica também as nossas crianças. Esta prática saudável continua beneficiando o condomínio que sempre será grato a iniciativa da nossa saudosa moradora.
Preocupada também com o lado espiritual nossa querida Mercy criou um grupo que se reúne, uma vez a cada semana, na casa de uma das participantes.
Unidas, rezamos o terço, oramos pelos enfermos e necessitados, lemos a Bíblia procurando entender as benditas palavras do Livro Sagrado.
Crescer no amor é crescer em Cristo. Neste grupo de orações também trocamos ideias, experiência e até receitas deliciosas. Às vezes às queixas do dia a dia faz o encontro parecer um consultório psicanalista. Trocamos receitas e nos deliciamos com os petiscos gaúchos oferecidos pela amiga
Uma noite, antes das orações, Mercy, bastante preocupada e entristecida, contou-nos que os últimos exames laboratoriais diagnosticaram nela um câncer agressivo.
Um balde de água fria caiu sobre todas nós.
Portámo-nos a 2 Coríntios 12 onde Paulo descreve: -“Porque quando estou fraco, então é que sou forte.” Não desanimamos e procuramos não passar nenhuma descrença.
Guerreira como era repleta de esperança e fé, teve todo o apoio do esposo, das filhas, amigos e familiares.


Li em algum lugar que: “É difícil racionalizar diante da dor, nem todos sabem externar seu sofrimento, somos todos carentes diante de uma situação limite.”
Mercy, Enfermeira Cirúrgica, escritora e palestrante, mais do que ninguém conhecia passo a passo a gravidade da doença a que fora cometida. Sabia, lutava, acolhia a nossa força, segurava nas mãos do Altíssimo sem jamais perder a fé..
Todas as vezes que os cabelos caiam, a cada quimioterapia, seu rosto que muito lembrava a Julie Andrews era emoldurado por uma peruca perfeita ou um lenço que realçava ainda mais o brilho do seu rosto.
Há alguns anos mudou-se com Osório para Ribeirão Preto aonde residem suas filhas, genros e netos. Ao lado da família recebeu todo o amor, todo o carinho e todo cuidado necessário.
Todas as vezes que retornava ao Rio fazia questão de estar com as amigas, quer em casa, na piscina ou no clube.
O nosso último encontro foi num restaurante. Estava debilitada, exaurida, chegou a mencionar que este talvez fosse o nosso último encontro.
Jamais diremos que sim porque o que nos separa é apenas a sua presença física. Ela está nos nossos corações e presente em todos os encontros de orações dando o tom exato do hino de Consagração a Virgem que somente ela sabe o tom exato.
Quem disse que não houve milagre! Prolongou por dez longos anos, passou por todo o sofrimento sem deixar que o sorriso deixasse o seu rosto. Ao perceber que mais nada podia fazer desenvolveu uma das maiores virtudes - a aceitação.
E parafraseando Paulo disse para si mesma : -“ Combati um duro  combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. “  
Amiga o exemplo da sua força e da sua fé ficará conosco para sempre.
Descanse em paz nos braços de Jesus.
Suas amigas.
Jailda Galvão Aires.
18 de maio de 2016.
A quem interessar possa: Enfermagem Cirúrgica - Mercilda Bartmann

terça-feira, 26 de abril de 2016

ANADIR- UMA GRANDE MULHER


  Desejo compartilhar, hoje, Dia Internacional das Mulheres, uma pergunta que, ainda jovem, encontrei escrita num Caderno de Recordações de minha tia Anadir. Entre belíssimos poemas, reescritos em letras quase que desenhadas uma a uma, sobressaiam títulos, tão esculpidos que mais pareciam joias de tão rica beleza e tão singular carinho.
Pelas vilas, cidades e fazendas por onde este caderno percorreu, a luz elétrica não se fazia presente a não ser nas cidades maiores. Lembro-me bem, que em pequenos municípios, a luz era ligada às seis horas da tarde e era apagada, pontualmente, às 20 horas.
Aqueles assíduos ouvintes do Repórter Esso e das lânguidas novelas, desligavam os seus rádios e iam se acamar.
Sem o advento da televisão, o tempo se alongava dando lugar a criação de bordadas e belas caligrafias. Aquele caderno, em minhas mãos, amarelado pelo tempo, trazia entre tantas poesias de diversos autores, uma pergunta que mais parecia um enígma:
-O que é, o que é, se pouco é divisível e se muito é indivisível?
E a mulher respondeu:
-É o AMOR.

Acredito que a partir desta pergunta despertou em mim a vontade de fazer filosofia.
E eu me punha a pensar: Como é que se divide o pouco e o muito é indivisível?! Mesmo esquadrinhando a matemática jamais encontraria resposta para tão enigmática e contraditória pergunta.
Cursei em 1970, quatro anos de Filosofia que mais afloraram do que deram respostas aos infindáveis porquês. Não foram os livros, não foram os filósofos, não foram os sofistas nem tão pouco os metafísicos que me trouxeram a mais bela e real resposta.
Volto, agora, ao ano de 1960. Na minha frente encontra-se minha Tia Anadir, com seus cabelos negros sobre os ombros, medindo um metro e sessenta de altura e pesando apenas quarenta e dois quilos. Pergunto-me: Como pode tanta força caber dentro de um corpo tão minúsculo e frágil?
Incontáveis vezes, madrugada a dentro, ela levantava da cama, e deslizava suavemente, em direção a rua para atender a um chamado urgente. Sabia que meu pai e minha mãe jamais a deixariam sair às tantas para fazer uma injeção ou aplicar um soro em alguém em virtude da sua saúde debilitada.
Ainda criança adquiriu a doenças de chagas. Fora, nos finais dos anos cinquenta, a Salvador, operar o coração. Os médicos abriram e descobriram que o frágil órgão estava tão grande que não tinha mais nada a fazer. Voltou ao sul do estado, convicta que tinha sido operada. Viveu por mais dez anos.
Na década de sessenta, papai alugou uma casa em Coaraci, cidade vizinha ao lugarejo de Itamotinga aonde morávamos, para que pudéssemos frequentar o curso ginasial. Tia Anadir seguiu conosco para cuidar dos cinco sobrinhos. Impossível?! Não. Ela tinha ordem para nos castigar até fisicamente embora não o fizesse, mas toda semana mamãe recebia, em mãos e ouvidos próprios a relação dos nossos pequenos delitos.
Fizera o curso de enfermagem em Salvador, e, voltando a morar conosco continuou a fazer aquilo que mais gostava na vida – atender doentes e ajudar a curar feridas físicas e da alma. A notícia se espalhou: “Doente que cai na mão da irmã Anadir não morre”.
Enfermeira e amiga do grande e inesquecível
Dr .Themistocles Carvalho de Azevedo, não mais parava. Era requisitada dia e noite, noite e dia, à revelia dos nossos cuidados.

Como eu, em particular, poderia compreender o milagre que a mantinha viva se não tivesse decifrado o tal enigma: Anadir era a personificação do AMOR.
Talvez porisso, nunca se casara. Quem vive um grande amor carnal de almas gêmeas, não o divide com outrem. Somente um grande amor incondissional pode ser dividido em partículas incontáveis.

Grata, minha querida tia, por tudo o que nos deste, por tudo o que fostes, e pelo amor que espalhaste.
Á você dedico este dia.
Saudades.
Rio, 08 de março de 2016
Jailda Galvão Aires.

domingo, 3 de abril de 2016

MUDANÇA TOTAL III


Sou fã de carteirinha da Martha Medeiros e devoradora 
voraz de suas crônicas.
Em “Detox” ela nos convida a fazer uma faxina geral 

em nossa casa física e nos aposentos de nossa alma. 
“Limpar é uma atitude que traz consequências 
saudáveis.  “É uma terapia rápida e de baixo custo: desapegar-se das tralhas a fim de aliviar a rotina”
 

Reconheço que minha casa e meu eu interior está
repleto de entulhos e lembranças. As minhas 
gavetas estão abarrotadas e meu coração já não 
consegue bombear tanto sangue devido ao
entupimento das minhas artérias emocionais.
 

Querida Martha, a minha bagunça vou e posso
procrastinar por mais um pouco porque incomoda unicamente a mim. Verdade que o maridão e os filhos
me cobram um pouco.
Existe, Martha, uma outra casa Gigante, repleta de 

tamanha sujeira, cacarecos, entulho, velharias e 
velhacarias que incomoda e adoece não só a mim mas a milhares de brasileiros.
Esta casa, que pertence a todos nós, precisa, 

urgentemente, não só de uma limpeza física mas também moral, social e política.
Vejo-me munida com aquele balde que você sugeriu, 

luvas de borracha, buchas porosas e materiais
pesados de limpeza, removendo as sujeiras inorgânicas 
e orgânicas que mofam, aderem, enfeiam e espalham um forte odor de podridão nauseante.
 

A faxina precisa ser geral e irrestrita. 
Não adianta tirar o pó de todos os móveis e deixar que
os mesmos senhores continuem, imponentes, ocupando postos mesas e cadeiras cativas, eleição pós eleição.

Desejaria também limpar a galeria de fotos nas
redes dos ex-políticos. Arrancar algumas das
imponentes molduras pois não são dignas do 
acervo, desenhar em algumas o nariz de Pinóquio 
e depois lustrar com óleo de peroba. Esculpir em 
outras o famoso bigodinho curto da traição. 
- Claro que não seria o bigode do nosso querido e inesquecível Charlie Chaplin!
Sabemos que a corrupção, os desvios e desmandos 

não vêm de um só partido.
A epidemia é generalizada e migrou para todas as 

legendas. - À salvo poucos políticos que mesmo 
embasados dos melhores ideais e compromissos, nada podem  e não conseguirão realizar porque são minoria. 
Uma minoria que não corrompeu e não foi corrompida, permanece, sofridamente, no estado de inércia.
Não adianta vitimar um bode expiatório porque 

sabemos que não temos na hierarquia da Ordem 
Sucessória, até o momento, um nome honrado a 
substituir ninguém.
A nossa frente desponta um labirinto sem saída.
Estamos cansados de tantos escândalos de tantas 

charges criadas nas manchetes de todo o mundo: 
Somos o País da Corrupção, do Petrolão, do Lava a 
Jato, do Mensalão, dos Delatores, dos Delatados, Das Pedaladas Fiscais, das Propinas, das Lavagem de 
Dinheiro, Evasão de Divisas, das Marolas e até das Marolinhas.
Descemos da oitava economia do mundo para a 

décima quarta.
Regredimos.Conhecemos a cifra dos bilhões desviados 
mas não temos de volta estes mesmos bilhões para
serem justamente empregados em escolas, hospitais, moradia, emprego, reforma agrária, saúde, salários e aposentadorias justas.
Não somos alienados, conhecemos o sacrifício com que pagamos os altos impostos para não termos o mínimo que temos por direito.
Sabe, Martha, as baratinhas e as traças que entram em nossas pequenas casas físicas e mentais jamais serão eliminadas se não forem eliminados para sempre 

os focos da "Grande Casa Mãe".
Sei que você, Martha, jamais lerá esta crônica mas

aqueles que chegarem até o fim possivelmente estarão pensando que jamais arrumarei a minha bagunça. 
Não sou tão inocente assim. Prometo a mim mesma 
que ainda este mês porei em ordem a minha casa. Procrastinação também tem limite.
Rio, 03 de abril de 2016
Jailda Galvão Aires.

MUDANÇA TOTAL II


Alguém mais safo, dotado de uma genialidade ímpar 
cantou a bola: “TUDO CONTINUARÁ 
COMO DANTES NO CASTELO DE ABRANTES"
Decifrando o adágio francês eu diria: TUDO SERÁ 

COMO DANTES NO PLANALTO AVILTANTE
Para nossa desdita e incredulidade este Gênio acertou. Desta vez, acrescido de um atenuante mais grave ainda: 
 O Velho comandante retornou ao navio, com mais poder, pampas e circunstâncias. Diria que foi um verdadeiro 
golpe de mestre e genialidade se fosse voltado para o 
bem comum de toda a nação. A nossa inteligência foi zombada e aviltada.
Os estudantes na década de 90, com rostos pintados 
foram a rua no ardor da mais completa inocência. Não 
sei se foram usados como alguns cientistas políticos 
tentam qualificar ou se eles vestiram a camisa do 
patriotismo e e do heroísmo e protestaram 
verdadeiramente.
Ao dizer no meu último artigo de que não iria servir de massa de manobra juntando-me a multidão que 
protestava vestindo as cores nossa bandeira, fui 
censurada por alguns que não entenderam a minha posição. Previa o que realmente aconteceu.
Disse e repito: irei as ruas, sim, por mudança total, 
por um congresso novo, límpido e transparente.
Irei a rua pelo Juiz Sérgio Moro, pelo ministro Joaquim Babosa, Pelo ministro Carlos Aires Britto e por outrem de igual envergadura.

Apresentem-me um nome, e, sei que existe, íntegro, progressista e inteiramente patriota e eu vestirei a 
camisa, cerrarei fileiras e levantarei a nossa bandeira 
o mais alto possível para que os nossos filhos a vejam tremular límpida e honrada por todas as ruas e 
avenidas do nosso Brasil.
Estamos, e como lamentável é, servindo de chacota
 em todas as manchetes do país e do mundo.
Como uma avestruz enterro meu rosto ao chão não

 por medo mas por vergonha do exemplo que 
estamos deixando para as novas gerações.
Transcrevo aqui o poema do centenário" e tão atual
 poeta Castro Alves: 
...
"Existe um povo que a bandeira empresta
Pr'a cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é
Que impudente na gávea tripudia?!...
Silêncio!... Musa! chora, chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto...

esta,
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra,
E as promessas divinas da esperança...
Tu, que da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...

Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu na vaga,
Como um íris no pélago profundo!...
...Mas ?infâmia de mais... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo...
Andrada! arranca este pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta de teus mares! "

Bandeira nossa que não para de ser maculada e sangrada
Jailda Galvão Aires. 16/03/2016