terça-feira, 26 de abril de 2016

ANADIR- UMA GRANDE MULHER


  Desejo compartilhar, hoje, Dia Internacional das Mulheres, uma pergunta que, ainda jovem, encontrei escrita num Caderno de Recordações de minha tia Anadir. Entre belíssimos poemas, reescritos em letras quase que desenhadas uma a uma, sobressaiam títulos, tão esculpidos que mais pareciam joias de tão rica beleza e tão singular carinho.
Pelas vilas, cidades e fazendas por onde este caderno percorreu, a luz elétrica não se fazia presente a não ser nas cidades maiores. Lembro-me bem, que em pequenos municípios, a luz era ligada às seis horas da tarde e era apagada, pontualmente, às 20 horas.
Aqueles assíduos ouvintes do Repórter Esso e das lânguidas novelas, desligavam os seus rádios e iam se acamar.
Sem o advento da televisão, o tempo se alongava dando lugar a criação de bordadas e belas caligrafias. Aquele caderno, em minhas mãos, amarelado pelo tempo, trazia entre tantas poesias de diversos autores, uma pergunta que mais parecia um enígma:
-O que é, o que é, se pouco é divisível e se muito é indivisível?
E a mulher respondeu:
-É o AMOR.

Acredito que a partir desta pergunta despertou em mim a vontade de fazer filosofia.
E eu me punha a pensar: Como é que se divide o pouco e o muito é indivisível?! Mesmo esquadrinhando a matemática jamais encontraria resposta para tão enigmática e contraditória pergunta.
Cursei em 1970, quatro anos de Filosofia que mais afloraram do que deram respostas aos infindáveis porquês. Não foram os livros, não foram os filósofos, não foram os sofistas nem tão pouco os metafísicos que me trouxeram a mais bela e real resposta.
Volto, agora, ao ano de 1960. Na minha frente encontra-se minha Tia Anadir, com seus cabelos negros sobre os ombros, medindo um metro e sessenta de altura e pesando apenas quarenta e dois quilos. Pergunto-me: Como pode tanta força caber dentro de um corpo tão minúsculo e frágil?
Incontáveis vezes, madrugada a dentro, ela levantava da cama, e deslizava suavemente, em direção a rua para atender a um chamado urgente. Sabia que meu pai e minha mãe jamais a deixariam sair às tantas para fazer uma injeção ou aplicar um soro em alguém em virtude da sua saúde debilitada.
Ainda criança adquiriu a doenças de chagas. Fora, nos finais dos anos cinquenta, a Salvador, operar o coração. Os médicos abriram e descobriram que o frágil órgão estava tão grande que não tinha mais nada a fazer. Voltou ao sul do estado, convicta que tinha sido operada. Viveu por mais dez anos.
Na década de sessenta, papai alugou uma casa em Coaraci, cidade vizinha ao lugarejo de Itamotinga aonde morávamos, para que pudéssemos frequentar o curso ginasial. Tia Anadir seguiu conosco para cuidar dos cinco sobrinhos. Impossível?! Não. Ela tinha ordem para nos castigar até fisicamente embora não o fizesse, mas toda semana mamãe recebia, em mãos e ouvidos próprios a relação dos nossos pequenos delitos.
Fizera o curso de enfermagem em Salvador, e, voltando a morar conosco continuou a fazer aquilo que mais gostava na vida – atender doentes e ajudar a curar feridas físicas e da alma. A notícia se espalhou: “Doente que cai na mão da irmã Anadir não morre”.
Enfermeira e amiga do grande e inesquecível
Dr .Themistocles Carvalho de Azevedo, não mais parava. Era requisitada dia e noite, noite e dia, à revelia dos nossos cuidados.

Como eu, em particular, poderia compreender o milagre que a mantinha viva se não tivesse decifrado o tal enigma: Anadir era a personificação do AMOR.
Talvez porisso, nunca se casara. Quem vive um grande amor carnal de almas gêmeas, não o divide com outrem. Somente um grande amor incondissional pode ser dividido em partículas incontáveis.

Grata, minha querida tia, por tudo o que nos deste, por tudo o que fostes, e pelo amor que espalhaste.
Á você dedico este dia.
Saudades.
Rio, 08 de março de 2016
Jailda Galvão Aires.

domingo, 3 de abril de 2016

MUDANÇA TOTAL III


Sou fã de carteirinha da Martha Medeiros e devoradora 
voraz de suas crônicas.
Em “Detox” ela nos convida a fazer uma faxina geral 

em nossa casa física e nos aposentos de nossa alma. 
“Limpar é uma atitude que traz consequências 
saudáveis.  “É uma terapia rápida e de baixo custo: desapegar-se das tralhas a fim de aliviar a rotina”
 

Reconheço que minha casa e meu eu interior está
repleto de entulhos e lembranças. As minhas 
gavetas estão abarrotadas e meu coração já não 
consegue bombear tanto sangue devido ao
entupimento das minhas artérias emocionais.
 

Querida Martha, a minha bagunça vou e posso
procrastinar por mais um pouco porque incomoda unicamente a mim. Verdade que o maridão e os filhos
me cobram um pouco.
Existe, Martha, uma outra casa Gigante, repleta de 

tamanha sujeira, cacarecos, entulho, velharias e 
velhacarias que incomoda e adoece não só a mim mas a milhares de brasileiros.
Esta casa, que pertence a todos nós, precisa, 

urgentemente, não só de uma limpeza física mas também moral, social e política.
Vejo-me munida com aquele balde que você sugeriu, 

luvas de borracha, buchas porosas e materiais
pesados de limpeza, removendo as sujeiras inorgânicas 
e orgânicas que mofam, aderem, enfeiam e espalham um forte odor de podridão nauseante.
 

A faxina precisa ser geral e irrestrita. 
Não adianta tirar o pó de todos os móveis e deixar que
os mesmos senhores continuem, imponentes, ocupando postos mesas e cadeiras cativas, eleição pós eleição.

Desejaria também limpar a galeria de fotos nas
redes dos ex-políticos. Arrancar algumas das
imponentes molduras pois não são dignas do 
acervo, desenhar em algumas o nariz de Pinóquio 
e depois lustrar com óleo de peroba. Esculpir em 
outras o famoso bigodinho curto da traição. 
- Claro que não seria o bigode do nosso querido e inesquecível Charlie Chaplin!
Sabemos que a corrupção, os desvios e desmandos 

não vêm de um só partido.
A epidemia é generalizada e migrou para todas as 

legendas. - À salvo poucos políticos que mesmo 
embasados dos melhores ideais e compromissos, nada podem  e não conseguirão realizar porque são minoria. 
Uma minoria que não corrompeu e não foi corrompida, permanece, sofridamente, no estado de inércia.
Não adianta vitimar um bode expiatório porque 

sabemos que não temos na hierarquia da Ordem 
Sucessória, até o momento, um nome honrado a 
substituir ninguém.
A nossa frente desponta um labirinto sem saída.
Estamos cansados de tantos escândalos de tantas 

charges criadas nas manchetes de todo o mundo: 
Somos o País da Corrupção, do Petrolão, do Lava a 
Jato, do Mensalão, dos Delatores, dos Delatados, Das Pedaladas Fiscais, das Propinas, das Lavagem de 
Dinheiro, Evasão de Divisas, das Marolas e até das Marolinhas.
Descemos da oitava economia do mundo para a 

décima quarta.
Regredimos.Conhecemos a cifra dos bilhões desviados 
mas não temos de volta estes mesmos bilhões para
serem justamente empregados em escolas, hospitais, moradia, emprego, reforma agrária, saúde, salários e aposentadorias justas.
Não somos alienados, conhecemos o sacrifício com que pagamos os altos impostos para não termos o mínimo que temos por direito.
Sabe, Martha, as baratinhas e as traças que entram em nossas pequenas casas físicas e mentais jamais serão eliminadas se não forem eliminados para sempre 

os focos da "Grande Casa Mãe".
Sei que você, Martha, jamais lerá esta crônica mas

aqueles que chegarem até o fim possivelmente estarão pensando que jamais arrumarei a minha bagunça. 
Não sou tão inocente assim. Prometo a mim mesma 
que ainda este mês porei em ordem a minha casa. Procrastinação também tem limite.
Rio, 03 de abril de 2016
Jailda Galvão Aires.

MUDANÇA TOTAL II


Alguém mais safo, dotado de uma genialidade ímpar 
cantou a bola: “TUDO CONTINUARÁ 
COMO DANTES NO CASTELO DE ABRANTES"
Decifrando o adágio francês eu diria: TUDO SERÁ 

COMO DANTES NO PLANALTO AVILTANTE
Para nossa desdita e incredulidade este Gênio acertou. Desta vez, acrescido de um atenuante mais grave ainda: 
 O Velho comandante retornou ao navio, com mais poder, pampas e circunstâncias. Diria que foi um verdadeiro 
golpe de mestre e genialidade se fosse voltado para o 
bem comum de toda a nação. A nossa inteligência foi zombada e aviltada.
Os estudantes na década de 90, com rostos pintados 
foram a rua no ardor da mais completa inocência. Não 
sei se foram usados como alguns cientistas políticos 
tentam qualificar ou se eles vestiram a camisa do 
patriotismo e e do heroísmo e protestaram 
verdadeiramente.
Ao dizer no meu último artigo de que não iria servir de massa de manobra juntando-me a multidão que 
protestava vestindo as cores nossa bandeira, fui 
censurada por alguns que não entenderam a minha posição. Previa o que realmente aconteceu.
Disse e repito: irei as ruas, sim, por mudança total, 
por um congresso novo, límpido e transparente.
Irei a rua pelo Juiz Sérgio Moro, pelo ministro Joaquim Babosa, Pelo ministro Carlos Aires Britto e por outrem de igual envergadura.

Apresentem-me um nome, e, sei que existe, íntegro, progressista e inteiramente patriota e eu vestirei a 
camisa, cerrarei fileiras e levantarei a nossa bandeira 
o mais alto possível para que os nossos filhos a vejam tremular límpida e honrada por todas as ruas e 
avenidas do nosso Brasil.
Estamos, e como lamentável é, servindo de chacota
 em todas as manchetes do país e do mundo.
Como uma avestruz enterro meu rosto ao chão não

 por medo mas por vergonha do exemplo que 
estamos deixando para as novas gerações.
Transcrevo aqui o poema do centenário" e tão atual
 poeta Castro Alves: 
...
"Existe um povo que a bandeira empresta
Pr'a cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é
Que impudente na gávea tripudia?!...
Silêncio!... Musa! chora, chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto...

esta,
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra,
E as promessas divinas da esperança...
Tu, que da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...

Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu na vaga,
Como um íris no pélago profundo!...
...Mas ?infâmia de mais... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo...
Andrada! arranca este pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta de teus mares! "

Bandeira nossa que não para de ser maculada e sangrada
Jailda Galvão Aires. 16/03/2016

MUDANÇA TOTAL I

Hoje, a história do Brasil, foi e será reescrita. O povo
desceu a rua e protesta veementemente, 
em tom pacífico como manda a democracia.
Não me juntei a massa por questão de saúde e escolha.
Desceria sim não por partidarismo mas por mudança. Desceria sim indiferente a qualquer partido que tivesse deixado o país como agora se encontra, totalmente desgovernado.
No auge dos meus quase setenta anos, passei por

vários Brasis: Passei por vários presidentes 
e um golpe de estado na minha tenra idade.
Vi de perto os calabouços e jornais incendiados.
Vi Grêmios estudantis, diretórios acadêmicos e bocas amordaçadas com as tarjas pretas da intolerância.
Vi artistas e vozes deportadas.
Vi e ouvi panelaços como agora.
Vi o nascer do sol de uma nova regressando com 

“urnas” anunciando mudanças: Eu, e todo brasileiro,
munido do título de eleitor poderia escolher o seu 
presidente através do voto.
Vi, em seguida um impeachment escurecer o sol da

nossa esperança com as nuvens pesadas da descrença.
Vi o Brasil sair da deriva e o Vice ser empossado como o novo presidente.
Vi escândalos proliferarem em todos os setores e de

 todas as formas: roubo, pedalas fiscais, mensalões, propinas e falcatruas, lavagens de dinheiro e evasão 
de divisas.
Como apostar num “fiel” que tantas vezes tornou-se
infiel?
Incontáveis vezes vi o prato da balança favorecer os poderosos em detrimento dos fracos.

Por questões tais reafirmo que iria e irei a rua não por partidarismo porque, ressalvando poucos, são todos
farinha do mesmo saco, e há muitas décadas vem 
sugando o suor do nosso povo.
Iria por este caos total em que o Brasil se encontra 

fosse em qualquer governo ou em qualquer partido.
Quando me virem em alguma passeata tenham

certeza que a ela me alinho por honestidade, emprego, hospitais, escolas, moradias, dignidade humana e 
mudança total em todos os poderes.
No momento não visto nenhuma camisa porque 

estão todas rotas, poluídas e sangradas.
Este legado quero deixar para os meus (nossos) filhos 

e netos: Um país justo, rico, íntegro e forte.
Rio, 13 de março de 2016.
Jailda Galvão Aires.